No nosso metabolismo há moléculas de açúcar longas e complexas chamadas glicosaminoglicanos (GAGs - antigamente conhecidas como mucopolissacarídeos) que são usadas na construção dos ossos, tendões, pele, cartilagens, partes essenciais de muitos tecidos do corpo.
Nas Mucopolissacaridoses (muco – consistência gelatinosa e espessa das moléculas; poli – muitos; sacarídeo – açúcar; ose – doença), o corpo não tem a enzima necessária para degradar esses GAGs. Assim, o excesso dessas moléculas se deposita em vários locais do organismo do indivíduo resultando em disfunção celular e alterações clínicas que afetam a aparência facial, os ossos, os olhos, o fígado e o baço e, às vezes, o desenvolvimento neuropsicomotor.
As MPS decorrem de defeitos nos genes que codificam essas enzimas de degradação, e dos vários tipos de mucopolissacaridoses, a maioria tem herança autossômica recessiva (para a doença ocorrer, é preciso que a pessoa herde a informação genética alterada do pai e, também, a informação genética alterada da mãe; se um dos pais tem somente uma alteração, eles não têm a mucopolissacaridose, podem passar para seus filhos(as) e são chamados portadores). Há também casos de alterações genéticas ligadas ao cromossomo X (quando uma informação genética alterada no cromossomo sexual X e a ocorrência da doença dependem do sexo do indivíduo, geralmente meninos).
Tipos de Mucopolissacaridoses
Existem muitos tipos de mucopolissacaridoses, dependendo da enzima específica que está ausente. Os tipos são classificados usando numerais romanos (por exemplo, mucopolissacaridose tipo I ou mucopolissacaridose tipo IV) e, também podem receber um nome do seu descobridor (por exemplo, síndrome de Hurler ou síndrome de Hunter).
Quais são as Mucopolissacaridoses?
Mucopolissacaridose Tipo I
Mucopolissacaridose Tipo II
Mucopolissacaridose Tipo IV
Mucopolissacaridose Tipo IV A
Mucopolissacaridose Tipo VI
Mucopolissacaridose Tipo VII
Durante a infância a criança pode apresentar infecções respiratórias de repetição, baixa estatura, abundância de pelo, articulações rígidas, problemas no desenvolvimento, alterações cardiovasculares e do sistema digestivo como fígado e baço aumentados, entre outros. O rosto pode ter uma aparência grosseira, incluindo aumento do tamanho da cabeça, testa proeminente, nariz curto e lábios e língua grossas. Alguns tipos de mucopolissacaridose podem causar importantes problemas nos ossos, capazes de levar a criança a necessitar de cadeira de rodas precocemente. A deficiência intelectual é outro sintoma que pode surgir devido às mucopolissacaridoses. A visão e a audição também podem ser prejudicadas.
Como é feito o diagnóstico?
Em pacientes sintomáticos
Frequentemente o diagnóstico de uma das mucopolissacaridoses é feito tardiamente baseando-se nos sintomas do paciente e nos resultados de um exame físico bem feito.
Exames específicos de urina e de sangue dão o diagnóstico. Radiografias podem mostrar alterações ósseas características da doença, contribuindo para o diagnóstico. Exames genéticos, por sua vez, são importantes ferramentas, tanto para confirmação diagnóstica, quanto para aconselhamento genético*.
*Aconselhamento genético é o processo de orientação em que um profissional de genética médica esclarece para indivíduos, família e casais que planejam ter filhos sobre o diagnóstico, a evolução e o tratamento da doença genética em questão. Pode calcular os riscos futuros do casal transmitir um gene alterado, bem como as consequências para o indivíduo e para a família. Orienta, mas não interfere no futuro reprodutivo do casal.
Em pacientes pré-sintomáticos
- É fundamental avaliar a árvore familiar, recomendando-se a realização de exames naqueles indivíduos que têm risco maior de ter ou de transmitir para seus filhos o gene alterado.
- Antes do nascimento, mulheres com risco de terem filhos com mucopolissacaridose podem realizar exames durante gravidez como coleta de líquido amniótico para análise da atividade enzimática.
- Após o nascimento, a MPS pode ser investigada com a realização de exames de triagem como o Teste do Pezinho, mesmo antes do aparecimento de sintomas. Porém, o Teste do Pezinho oferecido pelo SUS ainda não abrange exames para triagem de MPS, embora MPS I esteja inclusa na 3ª fase de implementação do novo Teste do Pezinho (segundo a lei federal sancionada em maio de 2021).
Pacientes com mucopolissacaridose requerem cuidado multiprofissional, como geneticistas, neurologistas, fisioterapeutas e vários outros profissionais da saúde. Idealmente, deve ser realizado em um centro de referência. É importante mencionar que nem todos os pacientes apresentarão todas as manifestações da doença, que são mais frequentes em pessoas com as formas graves da mucopolissacaridose.
Tratamento não específico
- Tratamento cirúrgico: ortopédico, neurológico, oftalmológico etc.;
- Tratamento clínico das manifestações respiratórias, cardiológico, auditivo etc.;
- Cuidados de enfermagem, tratamento odontológico;
- Fonoaudiologia, terapia ocupacional etc.
Tratamento específico
- A terapia de reposição da enzima que está deficiente no paciente de forma vitalícia está sendo utilizada para tratar vários tipos de mucopolissacaridose.
- Transplante de células tronco hematopoiéticas para mucopolissacaridoses graves (ex. MPS tipo I – Síndrome de Hurler) e em casos selecionados.
- Terapia gênica e outras terapias, sendo realidade em estudos clínicos fora do Brasil para alguns tipos específicos de MPS.
1) Franco, José Francisco da Silva. Avaliação clínico-laboratorial dos pacientes com mucopolissacaridose tipos I, II e VI em Terapia de Reposição Enzimática (TRE). São Paulo. Dissertação [Mestrado em Pediatria] – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2015.
2) Portaria Conjunta SCTIE/SAES/MS Nº 19, de 04/12/2019.
3) Portaria Conjunta SCTIE/SAES/MS Nº 20, de 05/12/2019.